A pessoa que não lê, mal fala, mal ouve, mal vê. (Malba Tahan)

quinta-feira, 27 de maio de 2010

É hoje! Não perca!

O Quê? Encontro cultural com os autores: Helena Ortiz e Enzo Potel.
Onde? Livraria Casa Aberta, Rua Lauro Muller, 83, Centro, Itajaí.
Quando? hoje! às 19 horas.

Lançamento dos livros:
Enzo Potel - Conto de Facas
Helena Ortiz - O silêncio das xícaras (contos) e Baseado em quê? Vol. I e II (seleção de crônicas sobre a legalização das drogas).

Haverá distribuição da edição nº 69, do jornal Panorama da Palavra (seleção de poemas eróticos) e sorteio de livros dos autores.

Não perca!

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Lançamento do livro "No Assoalho Duro", de Ronald Augusto

Sexa-feira, 28 de maio

Lançamento do livro "No assoalho duro"
no Sebo Livraria e Editora Casa Aberta
(rua Lauro Muller, 83 – Centro – Itajaí – SC)
das 17:30 às 18:30 horas
com sarau poético

...e depois um bate-papo
no Pier Café & Bar
(rua Hercílio Luz esquina com Lauro Muller – Centro – Itajaí – SC)
das 22:30 às 23:30 horas

"No assoalho duro", editora Éblis, 2007

Ronald Augusto nasceu em Rio Grande (RS) a 04 de agosto de 1961. Poeta, músico, letrista e crítico de poesia. Co-editor da Editora Éblis. É autor de, entre outros, Homem ao Rubro (1983),Puya (1987), Kânhamo (1987), Vá de Valha (1992) e Confissões Aplicadas (2004).

Sobre o autor e seus escritos
http://www.poesiacoisanenhuma.blogspot.com/
http://www.poesia-pau.blogspot.com/
www.germinaliteratura.com.br/raugusto.htm


segunda-feira, 24 de maio de 2010

Limite - Mario Peixoto

Limite
1931
Direção, roteiro, montagem e produção de Mário Peixoto.
Assistente de Direção: Ruy Costa
Fotografia e Câmera: Edgar Brasil
Elenco: Olga Breno, Taciana Rei, Raul Schnoor, D.G. Pedreira, Carmen Santos, Mário Peixoto e Edgar Brasil. 120 mim. Filme silencioso.

Filme denso e evolvente, narrado a partir de três pessoas sobreviventes em um bote salva-vidas. Desgastados e aparentemente sem vontade de viver, as memórias remetem ao itinerário de cada um deles. Com longas imagens que descrevem suas vidas, há um registro interessante de um interior do país ainda não desenvolvido, marcado pelas dificuldades entre modernidade e natureza. Detalhes são focalizados, longas tomadas do vento nas praias, no campizal, em estradas ermas em meio a vegetação, vilarejos, cemitérios. A máquina de costura, os carretéis,as rodas de carroça, as proas de embarcações, a monotomia, e novamente o vento nos cabelos, o vento na vegetação, o horizonte inatingível.

Conforme narra as histórias de cada um, parece demonstrar a resignação com o destino. A impossiblidade frente ao aprisionamento na tragédia humana do cotidiano lancinante.

Este filme foi exibido pela primeira vez em 17 de maio de 1931, no Cine Capitólio, na Cinelândia, RJ. A sessão foi promovida pelo primeiro cineclube do Brasil, o Chaplin Club, que atuou de 1928 a 1931. A título de curiosidade, a Cinelândia é um quarteirão no Rio de Janeiro, entre o Teatro Municipal e o Palácio Monroe (já demolido). Era a Broadway brasileira, criada na década de 20 por um imigrante de Valência, Espanha, chamado Francisco Serrador Carbonell. Foi o centro das exibições cinematográficas durante vários anos.

Ao realizar o filme, Mário Peixoto tinha 18 anos. Esta é uma das principais experiências do cinema nacional inspirada nas vanguardas européias.

Este filme foi um passo importante na produção nacional, tanto do ponto de vista estético quanto nos diálogos com a vanguarda do cinema francês. Sua falta de sintonia com a linguagem hollywoodiana e com a produção nacional da época, colocou-o no esquecimento do grande público.

O filme foi restaurado pela Funarte, e seu restaurador, Saulo Pereira de Mello, escreveu uma resenha crítica muito esclarecedora sobre a trajetória estética da obra na Revista da USP, Dez/jan/fev de 1990. Segundo ele, “Limite é uma experiência inesquecível e dilacerante”. Vale conferir.

Ganga Bruta - Humberto Mauro

Ganga bruta. 75 min.
O Roteiro, a Montagem e a Direção são de Humberto Mauro (que ale disso também é Câmera). O texto original foi escrito por Octávio Gabus Mendes.
O Filme é da Cinédia, do ano de 1933. Foi produzido por Adhemar Gonzaga.
Na fotografia, conta com Aphodísio P. de Castro (que também era câmera). Nas câmeras contam também com Paulo Morano e Edgar Brasil.

As músicas originais, a regência e a seleção musical são de nada mais nada menos que Radamés Gnatalli. A canção tema é de Heckel Tavares e Joracy Camargo, cantada por Jorge Fernandes e foram gravadas nos estúdios da RCA Victor sob a direção de Luis Seel e sincronização de Bichara Jorge. Destaque para as canções de Heckel Tavares, “Côco de Praia”, n. 1 e n. 2 e “Teus olhos...água parada”, esta última música tema do filme.

No elenco principal: Durval Bellini, Déa Selva, Décio Murilo, Lu Marival, Ivan Villar, Andréa Duarte, Carlos Eugênio, Alfredo Nunes, Francisco Bevilcqua, João Baldi, Ayres Cardoso, Renato de Oliveira, João Cardoso, Elsa Morena, Antonio Paes Gonçalves, Mário Moreno e Glória Marina.

O filme passou por diversas restaurações, mas principal ocorreu no Laboratório de imagem da Cinemateca Brasileira em 1987. Uma primeira reedição de imagem foi feita por Caio Scheiby em 1952 e outra pelo prórpio Humberto Mauro em 1961. Na equipe de restauração de imagem, João Sócrates em 1987. Na equipe de restauração de som, em 1972, Sylvia Bahiense. Na sincronização, Eduardo Leone, 1972. José Motta em 1987. Os letreiros por M.G. Tassara, em 1987. Os Estúdios de som foram a Eldorado em 1972 e a Álamo em 1987.

Como atores Coadjuvantes: Edson Chagas, Francisco Bevilacqua, Renato de Oliveira, Pery Ribas, João Cardoso, Elza Morena, Adhemar Gonzaga, Mario Moreno, Sergio Barreto Filho, Jorge Fernandes, Gloria Marina. Além do polivalente Humberto Mauro.

O filme inicia e finaliza com um casamento. Parece passar por várias possibilidades estéticas e influências. Ora usa legendas, bem ao estilo expressionista, ora usa da sonorização já disponível ao tempo de sua produção. Registra cenas cotidianas do Rio de Janeiro, como bondes e automóveis nas movimentadas ruas, bem como bucólicas cenas de praias, que remetem ao melhor do cinema Holywoodiano, quando Sônia está deitada nas areias da praia nos sonhos do engenheiro passional.

A riqueza das imagens da construção de um complexo industrial no interior reforçam o interesse documental de Humberto Mauro. Mas também a fina reflexão subjetiva, ao intercalar a força da industria com clímax sexual esperado e produzido ao longo da narrativa.

O argumento do filme é a passionalidade do ator principal, homem forte e destemido ao estilo John Ford. Logo no início, há a previsão de uma tragédia. O secretário do engenheiro bebe enquanto aguarda o desfecho de algo esperado. Ao saber da traição de sua noiva, o marido desfere tiros e mata a esposa. Marcos Rezende é absolvido e vai para o interior, Guaraíba, concluir uma grande obra. Lá encontra Sônia, moça bela e fútil que o envolve.

A vida da obra é retratada com detalhes, da operação de construção à vida nos bares dos operários. A presença do maestro Radamés inclui a música brasileira popular, na sua verve mais autêntica. Aparecem a valsa e o côco ricamente documentados pela missão de Pesquisas Folclóricas, nas pesquisas desenvolvidas pelos interiores do Brasil alguns anos mais tarde.

Glauber Rocha, em sua revisão do cinema brasileiro, considerava Ganga Bruta “ um clássico às avessas” , “um dos vinte melhores filmes de todos os tempos”.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Escritora gaúcha e poeta itajaiense promovem encontro cultural

O Quê? Encontro cultural com os autores: Helena Ortiz e Enzo Potel.
Onde? Livraria Casa Aberta, Rua Lauro Muller, 83, Centro, Itajaí.
Quando? Dia 27 de maio às 19 horas.

No dia 27 de maio, às 19 horas, a poetisa e escritora Helena Ortiz estará na Livraria Casa Aberta, em Itajaí, apresentando seus últimos lançamentos: O silêncio das xícaras (contos) e Baseado em quê? Vol. I e II (seleção de crônicas sobre a legalização das drogas). Helena Ortiz é gaúcha, residente no Rio de Janeiro e editora do jornal Panorama da Palavra. Ao lado do poeta Enzo Potel, com seu recente livro de poesias Conto de Facas, os autores convidam a todos os poetas, escritores e apreciadores da área, para a leitura, audição e fruição da poesia que se desenvolve na região. Também são bem-vindas as apresentações de livros, o intercâmbio, as conversas sobre o ofício.

Haverá distribuição da edição nº 69, do jornal Panorama da Palavra (seleção de poemas eróticos) e sorteio de livros dos autores.

Não perca!

Maiores informações:
47-30455815 (Casa Aberta)
47-33489784 (Enzo Potel)


terça-feira, 11 de maio de 2010

Música em Itajaí

Gostaria de falar um pouco sobre alguns aspectos da cultura local, mas sem fazer apreciações genéricas. Vou me deter em um aspecto bem pontual da cultura. A música. Seria repetitivo dizer que em Itajaí a música faz parte da cultura de maneira muito especial. Este é um dado tão conhecido como o fato da cidade ter um porto ou de ser um entreposto pesqueiro de importância impar na economia do setor. Seria também redundante dizer que a cena musical de Itajaí poderia ser resumida em profissionalismo crescente. O profissionalismo cresce, mas não nasceu ontem. O município abriga um conservatório, um curso superior de música (Univali), inúmeras escolas de música, como a Pró-arte, incontáveis coros, além de lojas especializadas em instrumentos e equipamentos, partituras e métodos, enfim, um universo que permite ver o desenho da criação de um campo profissional. Já nos ensinou o Professor Pierre Bourdieu o que é um campo profissional na cultura, catalisador de pessoas empenhadas desde a formação de pares até a circulação de um bem cultural. No caso da música, assistimos ao esforço de pessoas que buscam a capacitação como maestros, compositores, concertistas. Cabe pensar nos artífices e técnicos. Limitada ainda é a capacitação de críticos, produtores, gravadores, distribuidores. De qualquer forma, formou-se um território profissional para a música. Criou-se um campo.

Concordo, sem exageros, quando Nietzsche no diz que sem a música a vida seria um erro. E penso que os antepassados que viveram em Itajaí também tinham esta percepção. Encontramos partituras e pianos desde o século XIX. Acordeons e violas se espalham pelos bairros da cidade desde sempre. A Banda Os Foliões fez sucesso na região com seu repertório eclético. Mais tarde Opus 57, Quarta Redenção, Os Incandescentes, para falar dos tempos de bailes de salão. Os grupos de rock, pop rock, pagode, heavymetal, hip hop, pululam em cada canto da cidade. Em dezembro de 2008, realizou-se em Brasília o II Fórum Nacional dos Pontos de cultura. Na exposição que ajudamos a organizar para o evento, Itajaí foi representada entre outras coisas, pela música. Entrevistamos seu Zé da Viola. Uma amostra de tantos violeiros espalhados pela região. Roberto Correa, professor de viola da Universidade de Brasília, a convite da Fundação Cultural ofereceu uma oficina no Festival de Música de 2007, declarou-se surpreso com a força da cultura popular em Itajaí. No segundo piso da Casa Konder, ouvia-se os estudos de viola que ressoaram pelos interiores da cidade. No livro de presença da exposição do SESC, realizada no Museu Histórico sobre a história da viola e do violão no país, lê-se os comentários de pessoas que prezam pela sua cultura musical.

Neste sentido, cabe pensar os próximos passos do campo da música no município. A manutenção deste campo vai exigir investimentos permanentes para a consolidação de carreiras. Os pesquisadores sobre os repertórios herdados na região devem continuar escarafunchando territórios ainda desconhecidos. O poder público poderia sair d inércia para assumir sua parcela, mantendo suas rubricas para que os preciosos recursos cheguem a quem de fato produz. Este é o desafio para os profissionais da cidade: manter viva uma cultura musical herdada, cuidadosamente mantida, mas também resignificada com a força da organização e de investimentos bem aplicados.

Itajaí: um resumo histórico

Itajaí encontra-se numa área que durante os séculos XVII e XVIII , foi muito disputada entre as metrópoles portuguesa e espanhola. Portugal temia invasões espanholas no sul do Brasil, principalmente Santa Catarina, porque esta era uma área estratégica para se chegar ao Rio da Prata, e porque seu litoral permitia às embarcações se abastecerem de água, alimentos. Esta preocupação também perpassava pela necessidade de alargar as fronteiras da colônia Brasil. Contudo, foi somente no século XIX que foram dados os primeiros passos para uma ocupação mais efetiva do território.

Os primeiros passos para a ocupação são atribuídos a dois nomes: Antonio Menezes de Vasconcelos Drummond (1820) e Agostinho Alves Ramos (1824). Nomes, portanto, ligados à “ fundação” do primeiro núcleo. Cabe lembrar que somente com a imigração massiva para o Vale do Itajaí Açu (Colônia Blumenau e adjacências) e Itajaí Mirim (colônia Itajaí – Príncipe D Pedro – atuais município de Brusque, Guabiruba e Botuvera) é que o movimento populacional passa a ser mais intenso. Oswaldo Cabral dizia que Itajaí estava situada magnificamente à entrada do vale do Itajaí e possuía um porto praticável, o que fez nascer o núcleo urbano. Isto se deu se forma mais definitiva em 15 de junho de 1860, com a instalação do município (vila) de Itajaí, desmembrando-se de Porto Belo.

Na época, o presidente da Câmara assumia as funções executivas. A figura do superintendente só apareceu na república. É ainda deste período a criação da comarca (1868) e a elevação da vila à categoria de cidade, em maio de 1876.

domingo, 9 de maio de 2010

Filme "Um casamento à indiana". Direção de Mira Nair. 2001.

Para quem assistiu ao filme Monsoon Wedding (Um casamento à indiana) de Mira Nair esta descrição não parecerá estranha, entretanto pretendo nesta resenha carregar nas cores daquilo que mais me chamou a atenção em seu filme, ou seja, o tratamento dado ao meio termo, aos híbridos culturais, àquilo que não se define como exclusivo ou essencial. A documentarista indiana narra um casamento arranjado entre dois jovens punjabi de classe média. Num ambiente descontraído que marca os dias que antecedem as núpcias, parentes e convidados da família Verma transitam em Nova Delhi. A cidade é apresentada como culturalmente híbrida. A pista nos dá a diretora ao dizer que “a Índia tem um bilhão de pessoas. Não há uma família típica, mas para a classe média Punjabi, aquela ali é a realidade”.

Assim como no filme a festa de casamento acima descrita poderia ter sido realizada em qualquer lugar. Segundo Mira Nair seu filme poderia ser uma descrição de seu primeiro casamento, ela própria uma punjabi. Não designar onde este casamento está acontecendo permite pensar um dado de similitude pelo fato deste tipo de cerimonial ser facilmente encontrado em comunidades e situações a princípio desconexas entre si. Poderia ser em qualquer das comunidades rurais do Vêneto ou da Calábria no século XIX. Quem sabe um casamento em João Pessoa, na Paraíba ou uma descrição de um casamento entre descendentes de imigrantes de língua italiana no interior de Santa Catarina.

No filme o casamento acontece nos anos 90, período marcado pela emergência dos debates acerca das noções de pertencimentos e também de toda forma de intransigência decorrente disso. Mas a diretora de Casamento à Indiana olha para o seu tempo e comemora o presente, diferentemente de uma Índia de Forster, do livro Passagem para a Índia, estranha e inacessível(1). Mira Nair interroga o presente com uma profusão de situações híbridas (2) , causadas pela diáspora Punjabi, mas também por todo um movimento no período pós-colonial na Índia. O filme sugere noções de pertencimento entrecruzadas, viajadas, territorializadas nas redes e pelas redes de parentesco que por fim são indianas. Ou pelo menos de uma família indiana que tem muitos de seus membros em regiões distintas da Índia, Austrália ou Estados Unidos sem perderem o contato entre si. A narrativa dramatiza uma certa desilusão entre os noivos acerca de suas diferenças e expectativas quando mal se conhece com quem se vai casar. Dois casamentos se anunciam. A noiva que protagoniza o papel principal mora em Nova Delhi, o noivo tem curso superior e mora nos Estados Unidos. Ela foi criada para se casar, com um destino traçado pelos pais e ignorado por ela até ali. Além do mais a moça tinha um amante, famoso apresentador de tv que era casado. O outro casamento se dá entre os empregados da casa. Ele um promotor de eventos, organizador de casamentos que nunca se casou e que mora com a mãe que aplica as economias na bolsa. Ela é empregada doméstica na casa da família Verma.

Um celular nas mãos do organizador da festa, de casta inferior e contratado para organizar um casamento, conduz os trabalhos de montagem dos adereços, das tendas e dos ambientes de comensalidade da festa. A certa altura o pai da noiva ao indagar sobre a ausência de um quesito na ornamentação do jardim este lhe responde: Está aqui, no papel. Como no estrangeiro. A autoridade do pai da noiva sobre o jovem decorador não provém apenas do fato das castas apresentarem possibilidades de prestígio social diferenciados e desigual. No caso o pai é apresentado como de uma casta superior, bem sucedido nos negócios, mas bastante endividado graças aos preparativos para o casamento. O decorador é de uma casta inferior, mas dentro de um quadro de ascensão pelo trabalho e cuja velha mãe aplica suas economias em ações na bolsa de valores. A relação entre os dois antes que pautada na tradição apresenta-se em sua forma moderna: um contrato de trabalho.

Tampouco há essencialismos no filme no que se refere ao repertório cultural tradicional da Índia, deslocado a todo instante com situações de estranhamento e hibridismo. É isto o que ela nos propõe ao criar situações que destacam o comportamento dos primos que viviam nos EUA, Austrália ou outras regiões da Índia e que se vêem juntos circunstancialmente em um casamento.

Mira Nair interroga: o que é um indiano? Este indiano essencial não seria ele mesmo fruto das práticas do colonialismo europeu mantido pelos predicativos do discurso pós-colonial? O filme, em linhas gerais, nos diz de uma Índia culturalmente híbrida (3) e termina com a consumação de dois casamentos e a possibilidade de um terceiro. E num dos últimos diálogos, uma das primas, Yasha, diz ao seu primo de Melbourne: tornamos você um indiano.

Neste sentido, o filme compõe uma leitura híbrida, tencionada entre a tradição e a modernidade. Para além da menção ao amor romântico ocidental como elemento condutor da trama há que se exorcizar a mentira representada no assédio constante às meninas da família pelo “Tio” Tej, símbolo da relação com os Estados Unidos e da estabilidade financeira da família, expulso na cerimônia. Fica explícita ainda na explicação de um mau entendido que permitiu o casamento de Alice (definida como moça pacata, cristã, que conhece Internet, uma indiana de nome inglês) com Dubey (definido como moço laborioso e empreendedor, com nome indiano) união marcada pelo amor. Ou ainda na revelação de Adit a seu noivo acerca de sua relação com outro, que permite restaurar a ordem das coisas sob proteção dos antepassados, dos familiares que já se foram no momento da bênção das núpcias.

Mira Nair nos fala de hibridismo, mas nos fala também da dimensão identitária familiar. Este diálogo com o filme Um casamento à indiana se fez no sentido de elucidar as fissuras que se abrem em torno das identidades e de quem fala em nome delas. Daí o hibridismo, a mistura, são tratados em suas múltiplas dimensões, mas julgados em suas formas que ali são apresentadas como positivas operadas na tradição e, portanto como o melhor caminho para o desfecho da trama. Vem daí meu insight de pensar o valor simbólico presente na frase tornamos você um indiano dita por uma componente da família Verma, que mantinha sua posição de classe média através de estratégias de casamento. Este lampejo provocado pelo filme me levou a pensar acerca das estratégias sociais presentes no movimento de resignificação e uso político das noções de origem tão caras aos manipuladores das identidades.

(1) SAID, Edward W. Cultura e Imperialismo. Tradução de Denise Bottman. São Paulo: Cia das Letras, ano.p. 259. Said faz uma discussão interessante acerca da relação ocidente/ oriente, conferindo complexidade à simplificação tradicional/ moderno. O autor nos coloca o oriente para além de uma representação, propondo o romance como objeto privilegiado de análise da resistência e descolonização. Como tese central o autor propõe que o imperialismo tornou as culturas mutuamente híbridas.
(2)CANCLINI, Nestor Garcia. Culturas Híbridas. Tradução Ana Regina Lessa e Heloísa Pezza Cintrão. Estratégias para entrar e sair da modernidade. São Paulo: EDUSP, 1997 GRUZINSKI, Serge. O pensamento mestiço. Tradução de Rosa Freire d’Aguiar. São Paulo: Cia das Letras, 2001. Em especial o capítulo 2 intitulado Misturas e Mestiçagens.
(3) A imprensa especializada trata a indústria cinematográfica indiana desta forma, é a estética de Bollywood. Tem um mercado que atinge além da Índia e seus milhões de habitantes, o sul e sudeste da Ásia, o Oriente Médio, parte da África. Designa também um estilo musical. Fonte: CD rom Um casamento à indiana, 2001. No filme a trilha sonora dance e folk embala muitas cenas tornando-o tributário da leveza e alegria deste estilo, além do contraste entre modernidade e tradição constituído pelas tomadas externas em Nova Delhi. Os personagens falam em hindu, punjabi e inglês. A família Verma apresenta um estilo de vida compreendido como de classe média ocidental.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

A sociedade do espetáculo

O livro de Debord é surpreendente, dividido em nove capítulos, compõe um dos pilares da teoria situacionista. Escrito em 1967, sua forma anuncia a radicalidade do autor. Transformado em filme em 1973, a sua tese central diz respeito a espetacularização das sociedades modernas, compreendida como um processo de alienação. Faz a crítica da neo-linguagem que o espetáculo cria para o seu próprio uso. 'O espetáculo deve negar a história, dado que ela demonstra que nada é lei mas que tudo é processo e luta."

Nascido em doze de dezembro de 1931, Debord alcança a idade adulta após a segunda guerra, quando a França experimenta uma grande modernização, num período considerado a segunda revolução francesa. Nesta época conhece Isou, com quem funda a Internacional Letrista (1952). Este grupo tinha como projeto estético a redução da poesia a letra (Poesia, pintura e música). Levam até o fim a autodestruição das formas artísticas, que não mais deveriam existir sob o signo da economia, mas sim da criatividade generalizada. A Internacional Letrista e mais tarde a Internacional Situacionista, segundo Lefebvre, foram as únicas vanguardas artísticas após o surrealismo. Pressupunham grupos pequenos com a participação total (diferentemente do leninismo, que pressupunha adesão formal e com uma disciplina ligada às táticas do partido). Visavam a construção de novas situações e a recusa ao trabalho. Preconizavam ainda a construção consciente de novos estados afetivos: a nova beleza está na situação - cidades, rostos. Neste sentido, miram a realidade e a consciência - em oposição ao surrealismo que mira o sonho e o inconsciente. Assim, a arte deve ampliar a vida ao invés de traduzi-la - contra a duração da arte, pois visavam superar a dicotomia momentos artísticos/momentos banais. Para tanto, a revolução deveria estar a serviço da poesia, e não o oposto, como pressupunham os surrealistas. As três críticas principais deste grupo dizem respeito ao campo de produção cultural e podem ser assim resumidas:

- Crítica ao cânones da arte - a arte está morta. (Para Debord, a técnica permite exercer uma crítica mais eficaz na vida cotidiana do que a poesia).

- Crítica ao cotidiano como oposição aos grandes momentos, crítica à colonização do cotidiano. ( "O marxismo em seu conjunto é, de fato, um conhecimento crítico da vida cotidiana". H. Lefebvre).

- Ruptura em cadeia com tudo e todos aqueles que fossem considerados traidores.

Debord aproxima-se da proposta de Walter Benjamin sobre escrever uma obra composta só de citações. Esta prática é denominada "afastamento". Trata-se de uma postura diferente daquela do Dadaísmo, que se limita a uma desvalorização. O afastamento baseia-se numa dialética de desvalorização e revalorização. Ele é também uma maneira de superar o culto burguês da originalidade e da propriedade privada do pensamento. (SDE, 207).

O autor faz a crítica da forma-imagem enquanto desenvolvimento da forma-valor - "qualquer conteúdo, mesmo aquele que se diz antagônico, sempre se apresenta sob a forma nada inocente da imagem espetacular".

Apresenta o sujeito mais amplo e mais irredutível possível: a vida. A relação da sociedade com o espetáculo é concebida como a relação entre a vida e a não vida.

Deparar-se com este já clássico filme, em que texto e imagens nos dizem muito das contradições de nosso tempo, pode causar um certo desconforto. Mas não seria o sintoma de algo?

Políticas públicas e as três virtudes a cultivar.

O ano de 2009 foi marcado por uma série de pré-conferências e conferências por todo o país, preconizando um momento impar para a participação social no alinhavo das políticas públicas nos diversos setores de atuação do estado brasileiro. A condução de eventos dessa magnitude exigiu uma organização que desse conta da amplitude de um país como o Brasil, levando em conta os setores participantes de cada um dos encontros e seus temas relativos. À parte as críticas pontuais, dos exageros e dos percalços na movimentação de milhares de pessoas e demandas, o saldo foi de uma participação efetiva naquilo que poderíamos chamar de gestão participativa das políticas públicas no Brasil.

Para quem achar que isso pouco, basta lembrar que somos um país com uma herança autoritária, advinda das estruturas oligárquicas e escravocratas que sobreviveram ao fim do Império e suas mazelas. Mesmo na República, vamos encontrar práticas e discursos referentes à velha e rançosa observação de que as camadas populares incomodam mais do que contribuem nos processos decisórios. Os esforços de eventos dessa natureza e fazer cair por terra tais práticas e discursos. E aqui aparece uma primeira virtude dos participantes deste processo: a paciência. Paciência para lidar com as diferenças, tão ricas neste país marcado pela imigração, pela desigualdade de classes, por matizes autoritárias nas relações de gênero, pela escravidão, mas também pelos esforços de esvaziamento sistemático das pré-conferências e conferências, motivadas pelos setores pouco interessados em mudanças que alterem as zonas de conforto ocupadas há muito tempo. Virtude que mostrou os seus resultados: a maior participação popular da história do país em termos relativos e absolutos. Vamos nos lembrar que no Império e por boa parte da República, a população não participava diretamente das escolhas e das decisões importantes do país. Quadro que os movimentos sociais foram conquistando à duras penas ao longo da história deste país, com sucessos nem sempre duradouros.

A segunda virtude emana de um passo mais efetivo na direção da democracia: a prudência. A prudência para não confiar nos velhos moldes da política no Brasil, feita por representantes desconectados do lugar social que dizem representar, mas bem afinados com os interesses que representam. Os povos indígenas, as mulheres, os homossexuais, os grupos afrodescendentes, as populações ribeirinhas, falaram por si. Política trazida para a participação de cada um como cidadão, independente de sua origem étnica, da posição social, do credo religioso, da opção sexual. Não deixar outros falarem por nós foi um dos pontos positivos das conferências e pré-conferências que ocorreram em praticamente todo o território nacional em pelo menos uma de suas modalidades (Educação, cultura, água e meio ambiente, trânsito, cidades, infância e adolescência, igualdade racial, segurança pública, para dar alguns exemplos).

Por fim, a terceira virtude desses encontros da cidadania foi a persistência, para compreender que muitas vezes é preciso bater várias vezes numa mesma porta. Mas bater com as próprias mãos e com toda a dignidade que as reivindicações exigem. O que em outros tempos era caso de polícia, punido com repressão aos seus atores, virou força política na mesa em que todos os jogadores tinham o mesmo peso. Ao menos lutaram para se fazer ouvir sem medo do silenciamento.

É muito cedo para medir os resultados de toda essa mobilização e deste movimento participativo. Mas que tenhamos como horizonte as virtudes que emanaram deste momento histórico. As mesmas forças que se fizeram presentes ( ou se ausentaram de forma proposital, como na conferência da Comunicação) podem ficar esperando para retomar espeços e posições. Neste sentido, a paciência, a prudência e a persistência não devem ser deixadas de lado pelos atores sociais, já que “ tudo que é sólido, desmancha no ar”.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Peça "O Asno de Apuleio" em Itajaí

O Asno de Apuleio no Teatro Municipal de Itajaí

Data e horário:
*14/05/2010 – 15 H (sexta-feira)
Apresentação gratuita para estudantes do Ensino Médio das escolas da rede pública de Itajaí
*15/05/2010 – 21 H (sábado)
R$ 5,00 (inteira) e 2,50 (meia)


O espetáculo O Asno de Apuleio (2008) compõe uma trilogia com Quixote (PREMIO DAMS/Itália-2005) e Butterfly (Prêmio FUNARTE de Dança Klauss Vianna-2006), da Andras Cia. De Dança-Teatro, de Florianópolis/SC, dirigida pelo diretor e coreógrafo Milton de Andrade.

As referências temáticas do espetáculo O ASNO DE APULEIO são obtidas na obra literária “O Livro das Metamorfoses”, ou como é mais conhecida, “O Asno de Ouro” (séc. II d.C.), do autor latino Apuleio.

A obra trata do argumento da iniciação masculina nos mundos da violência, da fé e da espiritualidade através da história de Lúcio, um jovem que, movido pela curiosidade e pelo desejo de voar, se apodera do unguento mágico errado e, ao invés de ser transformado em pássaro, é transformado em asno. Lúcio, na forma de homem-asno, parte numa viagem de peripécias, provações e tormentos, e entra em contato com as mazelas e os vícios humanos. A fábula narra as passagens e as transformações do herói masculino, de jovem ingênuo a besta, e de besta a um novo homem que, vivendo comicamente os mecanismos de banalização da virilidade, encontra uma redenção moral e espiritual.

FICHA TÉCNICA
direção: Milton de Andrade
com: Samuel Romão, Anderson Luiz do Carmo, Diogo vaz Franco, Milton de Andrade, Oto Henrique, Rogaciano Rodrigues
assistência de direção: Melissa Ferreira
dramaturgia: Melissa Ferreira
preparação corporal: Milton de Andrade (dança), Gerardo Bejarano (esgrima cênica) e Jean Machado (adágio circense)
figurinos: Rosane Libório
técnico de luz: Rogaciano Rodrigues
operação de som e luz: Milton de Andrade
ilustrações: Freekje Veld
design gráfico: Leo Romão
fotos: André Auler
direção de produção: Melissa Ferreira
produção local em Itajaí: Sandra Knoll
realização: Andras Cia. de dança-teatro

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Hoje! Abertura da exposição Escritas Femininas

Exposição “Escritas Femininas: dos bordados às agendas”, da artista Cláudia Regina Telles

Quando?
Abertura - hoje às 19:00 horas
Visitação de 04 a 29 de maio das 09:00 às 18:00 horas

Onde?
Sebo e Livraria Casa Aberta
Rua Lauro Muller, 83 - Centro – Itajaí - SC

Realização
Cláudia Regina Telles
Ateliê Clara Lua Cheia (47) 9159-4220
claraluacheia@yahoo.com.br - http://www.http//escritasfemininas.blogspot.com/

Apoio
Sebo e Livraria Casa Aberta
Cine Clube Cine Arte Poesia no Olhar