A pessoa que não lê, mal fala, mal ouve, mal vê. (Malba Tahan)

terça-feira, 11 de maio de 2010

Música em Itajaí

Gostaria de falar um pouco sobre alguns aspectos da cultura local, mas sem fazer apreciações genéricas. Vou me deter em um aspecto bem pontual da cultura. A música. Seria repetitivo dizer que em Itajaí a música faz parte da cultura de maneira muito especial. Este é um dado tão conhecido como o fato da cidade ter um porto ou de ser um entreposto pesqueiro de importância impar na economia do setor. Seria também redundante dizer que a cena musical de Itajaí poderia ser resumida em profissionalismo crescente. O profissionalismo cresce, mas não nasceu ontem. O município abriga um conservatório, um curso superior de música (Univali), inúmeras escolas de música, como a Pró-arte, incontáveis coros, além de lojas especializadas em instrumentos e equipamentos, partituras e métodos, enfim, um universo que permite ver o desenho da criação de um campo profissional. Já nos ensinou o Professor Pierre Bourdieu o que é um campo profissional na cultura, catalisador de pessoas empenhadas desde a formação de pares até a circulação de um bem cultural. No caso da música, assistimos ao esforço de pessoas que buscam a capacitação como maestros, compositores, concertistas. Cabe pensar nos artífices e técnicos. Limitada ainda é a capacitação de críticos, produtores, gravadores, distribuidores. De qualquer forma, formou-se um território profissional para a música. Criou-se um campo.

Concordo, sem exageros, quando Nietzsche no diz que sem a música a vida seria um erro. E penso que os antepassados que viveram em Itajaí também tinham esta percepção. Encontramos partituras e pianos desde o século XIX. Acordeons e violas se espalham pelos bairros da cidade desde sempre. A Banda Os Foliões fez sucesso na região com seu repertório eclético. Mais tarde Opus 57, Quarta Redenção, Os Incandescentes, para falar dos tempos de bailes de salão. Os grupos de rock, pop rock, pagode, heavymetal, hip hop, pululam em cada canto da cidade. Em dezembro de 2008, realizou-se em Brasília o II Fórum Nacional dos Pontos de cultura. Na exposição que ajudamos a organizar para o evento, Itajaí foi representada entre outras coisas, pela música. Entrevistamos seu Zé da Viola. Uma amostra de tantos violeiros espalhados pela região. Roberto Correa, professor de viola da Universidade de Brasília, a convite da Fundação Cultural ofereceu uma oficina no Festival de Música de 2007, declarou-se surpreso com a força da cultura popular em Itajaí. No segundo piso da Casa Konder, ouvia-se os estudos de viola que ressoaram pelos interiores da cidade. No livro de presença da exposição do SESC, realizada no Museu Histórico sobre a história da viola e do violão no país, lê-se os comentários de pessoas que prezam pela sua cultura musical.

Neste sentido, cabe pensar os próximos passos do campo da música no município. A manutenção deste campo vai exigir investimentos permanentes para a consolidação de carreiras. Os pesquisadores sobre os repertórios herdados na região devem continuar escarafunchando territórios ainda desconhecidos. O poder público poderia sair d inércia para assumir sua parcela, mantendo suas rubricas para que os preciosos recursos cheguem a quem de fato produz. Este é o desafio para os profissionais da cidade: manter viva uma cultura musical herdada, cuidadosamente mantida, mas também resignificada com a força da organização e de investimentos bem aplicados.

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