A pessoa que não lê, mal fala, mal ouve, mal vê. (Malba Tahan)

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Limite - Mario Peixoto

Limite
1931
Direção, roteiro, montagem e produção de Mário Peixoto.
Assistente de Direção: Ruy Costa
Fotografia e Câmera: Edgar Brasil
Elenco: Olga Breno, Taciana Rei, Raul Schnoor, D.G. Pedreira, Carmen Santos, Mário Peixoto e Edgar Brasil. 120 mim. Filme silencioso.

Filme denso e evolvente, narrado a partir de três pessoas sobreviventes em um bote salva-vidas. Desgastados e aparentemente sem vontade de viver, as memórias remetem ao itinerário de cada um deles. Com longas imagens que descrevem suas vidas, há um registro interessante de um interior do país ainda não desenvolvido, marcado pelas dificuldades entre modernidade e natureza. Detalhes são focalizados, longas tomadas do vento nas praias, no campizal, em estradas ermas em meio a vegetação, vilarejos, cemitérios. A máquina de costura, os carretéis,as rodas de carroça, as proas de embarcações, a monotomia, e novamente o vento nos cabelos, o vento na vegetação, o horizonte inatingível.

Conforme narra as histórias de cada um, parece demonstrar a resignação com o destino. A impossiblidade frente ao aprisionamento na tragédia humana do cotidiano lancinante.

Este filme foi exibido pela primeira vez em 17 de maio de 1931, no Cine Capitólio, na Cinelândia, RJ. A sessão foi promovida pelo primeiro cineclube do Brasil, o Chaplin Club, que atuou de 1928 a 1931. A título de curiosidade, a Cinelândia é um quarteirão no Rio de Janeiro, entre o Teatro Municipal e o Palácio Monroe (já demolido). Era a Broadway brasileira, criada na década de 20 por um imigrante de Valência, Espanha, chamado Francisco Serrador Carbonell. Foi o centro das exibições cinematográficas durante vários anos.

Ao realizar o filme, Mário Peixoto tinha 18 anos. Esta é uma das principais experiências do cinema nacional inspirada nas vanguardas européias.

Este filme foi um passo importante na produção nacional, tanto do ponto de vista estético quanto nos diálogos com a vanguarda do cinema francês. Sua falta de sintonia com a linguagem hollywoodiana e com a produção nacional da época, colocou-o no esquecimento do grande público.

O filme foi restaurado pela Funarte, e seu restaurador, Saulo Pereira de Mello, escreveu uma resenha crítica muito esclarecedora sobre a trajetória estética da obra na Revista da USP, Dez/jan/fev de 1990. Segundo ele, “Limite é uma experiência inesquecível e dilacerante”. Vale conferir.

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