A pessoa que não lê, mal fala, mal ouve, mal vê. (Malba Tahan)

quinta-feira, 6 de maio de 2010

A sociedade do espetáculo

O livro de Debord é surpreendente, dividido em nove capítulos, compõe um dos pilares da teoria situacionista. Escrito em 1967, sua forma anuncia a radicalidade do autor. Transformado em filme em 1973, a sua tese central diz respeito a espetacularização das sociedades modernas, compreendida como um processo de alienação. Faz a crítica da neo-linguagem que o espetáculo cria para o seu próprio uso. 'O espetáculo deve negar a história, dado que ela demonstra que nada é lei mas que tudo é processo e luta."

Nascido em doze de dezembro de 1931, Debord alcança a idade adulta após a segunda guerra, quando a França experimenta uma grande modernização, num período considerado a segunda revolução francesa. Nesta época conhece Isou, com quem funda a Internacional Letrista (1952). Este grupo tinha como projeto estético a redução da poesia a letra (Poesia, pintura e música). Levam até o fim a autodestruição das formas artísticas, que não mais deveriam existir sob o signo da economia, mas sim da criatividade generalizada. A Internacional Letrista e mais tarde a Internacional Situacionista, segundo Lefebvre, foram as únicas vanguardas artísticas após o surrealismo. Pressupunham grupos pequenos com a participação total (diferentemente do leninismo, que pressupunha adesão formal e com uma disciplina ligada às táticas do partido). Visavam a construção de novas situações e a recusa ao trabalho. Preconizavam ainda a construção consciente de novos estados afetivos: a nova beleza está na situação - cidades, rostos. Neste sentido, miram a realidade e a consciência - em oposição ao surrealismo que mira o sonho e o inconsciente. Assim, a arte deve ampliar a vida ao invés de traduzi-la - contra a duração da arte, pois visavam superar a dicotomia momentos artísticos/momentos banais. Para tanto, a revolução deveria estar a serviço da poesia, e não o oposto, como pressupunham os surrealistas. As três críticas principais deste grupo dizem respeito ao campo de produção cultural e podem ser assim resumidas:

- Crítica ao cânones da arte - a arte está morta. (Para Debord, a técnica permite exercer uma crítica mais eficaz na vida cotidiana do que a poesia).

- Crítica ao cotidiano como oposição aos grandes momentos, crítica à colonização do cotidiano. ( "O marxismo em seu conjunto é, de fato, um conhecimento crítico da vida cotidiana". H. Lefebvre).

- Ruptura em cadeia com tudo e todos aqueles que fossem considerados traidores.

Debord aproxima-se da proposta de Walter Benjamin sobre escrever uma obra composta só de citações. Esta prática é denominada "afastamento". Trata-se de uma postura diferente daquela do Dadaísmo, que se limita a uma desvalorização. O afastamento baseia-se numa dialética de desvalorização e revalorização. Ele é também uma maneira de superar o culto burguês da originalidade e da propriedade privada do pensamento. (SDE, 207).

O autor faz a crítica da forma-imagem enquanto desenvolvimento da forma-valor - "qualquer conteúdo, mesmo aquele que se diz antagônico, sempre se apresenta sob a forma nada inocente da imagem espetacular".

Apresenta o sujeito mais amplo e mais irredutível possível: a vida. A relação da sociedade com o espetáculo é concebida como a relação entre a vida e a não vida.

Deparar-se com este já clássico filme, em que texto e imagens nos dizem muito das contradições de nosso tempo, pode causar um certo desconforto. Mas não seria o sintoma de algo?

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